[Áudio e vídeos] Conheça Miguel Arthur, um jovem autista de Palmeira dos Índios, e entenda mais sobre o TEA

Por: Pedro Ivon
 / Publicado em 23/09/2023

Miguel Arthur | Imagem: Pedro Ivon

Em 2011, no Mato Grosso do Sul, uma professora notou que um de seus alunos, de dois anos, era muito quieto, não interagia e não queria comer - apenas tomava leite. Estranhando a situação, a docente foi até Ana Leide, a mãe de Miguel Arthur, e perguntou se ele havia sido diagnosticado com algum problema. Ana negou, mas depois de levar seu filho a um neurologista, recebeu o laudo: Miguel estava dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A descoberta não abalou a mãe, que já havia percebido que seu filho era diferente. “Ele sempre foi diferente. Ele fazia coisinhas, antes mesmo de começar a andar; ele já fazia coisinhas como se fosse uma criança de dois, três anos; ele brincava normal com os carrinhos. Até tinha amiga da minha mãe que dizia ‘nossa, ele parece que é mais velho por causa do jeito dele brincar’”, contou Ana Leide ao Portal Rádio Sampaio. De acordo com ela, o filho olhava pouco nos olhos e não teve dicção até os três anos de idade.

“No mais, mesmo assim nunca me deu problema quanto ao autismo, não”, disse Leide. “A vontade de ser mãe superou o próprio diagnóstico. Era como se a alma já estivesse trabalhando pra recebê-lo. Ele foi a benção da minha vida”, continuou.

O que é o Transtorno do Espectro Autista?

O laudo de Miguel veio no tempo certo: de acordo com o Ministério da Saúde, o diagnóstico de autismo pode ser estabelecido por volta de dois a três anos de idade, mas isso não é uma regra: existem casos que são diagnosticados já na fase adulta.

Mas o que é o TEA? Ao Portal Rádio Sampaio, o psicólogo Rhuan Matheus explicou o assunto. “TEA é um dos transtornos chamados do neurodesenvolvimento. Essa é uma classe de transtornos que se manifesta em uma idade normalmente antes da pessoa ingressar na escola”, disse Rhuan. “Portanto, é um transtorno de natureza neuronal, orgânica. Está no corpo, não na alma”.

O psicólogo ainda explicou que esses transtornos afetam a atividade mental, podendo causar um prejuízo significativo na comunicação, na interação social e no aprendizado, além de padrões repetitivos de comportamentos, interesses, atividades e até mesmo na alimentação, este último caso tendo ocorrido ao Miguel.

Essas características, entretanto, irão variar de pessoa para pessoa, já que existem níveis dentro do TEA. “Uma pessoa que tem autismo considerado leve pode ter um prejuízo que uma pessoa que tenha um autismo considerado grave não tem. Então há um grupo de prejuízos, e o que se considera para classificar o grau, eu acredito que seja a maior ou menor autonomia; mas as classificações são artificiais, são aproximativas”, explicou Rhuan. “O que determina o grau é a autonomia e a intensidade dos prejuízos”.

Estabelecendo-se em Palmeira e o dia a dia

Depois de receber o diagnóstico do filho, a família de Miguel precisou se mudar do Mato Grosso do Sul para o Rio de Janeiro, pois em Ladário (MS), onde vivia, não havia terapia para autistas. Em meio a viagens e mudanças, ocorreu a separação entre Ana e seu marido. Depois disso, há cerca de um ano e meio, Ana Leide (51) vive em Palmeira dos Índios (AL), de onde é natural, junto a Miguel, que tem 13 anos, e suas duas filhas, Mariana (10) e Manuela Duarte (6).

Em terras palmeirenses, Miguel é atendido na Associação Pestalozzi, que tem sua sede na Rua Dr. Aristeu Arruda, no bairro Paraíso, e estuda no 8° ano B da Escola Municipal Dr. Gerson Jatobá Leite, localizada no bairro São Cristóvão. Em ambos os locais, o jovem participa das atividades e é até mesmo chamado para fazer apresentações, cantando músicas, principalmente na Pestalozzi.

“A Pestalozzi gosta de mim. Quando eu entrei, vi que eu sempre canto. E as letras, eu pratico, e tem uma hora que eu boto tudo na cabeça. Aí todo mundo adora como eu canto, porque minha voz é bonita e eu sempre mando muito bem”, disse Miguel em entrevista ao nosso portal.

Segundo a mãe, essas apresentações ajudam na terapia de seu filho, que desenvolve mais as suas habilidades. Além disso, também serve como forma de unir a família: a irmã do meio, Mariana, já cantou algumas vezes ao lado do irmão durante suas apresentações.

"O autista também pode ser artista, entendeu? Ele pode ter a carreira que ele quiser. Se for nessa área, ainda bem, já está encaminhado; se não, a gente parte para o que ele quiser", afirmou Leide.

Além de cantar e ir para a escola, Miguel também ajuda nos afazeres domésticos, arrumando seu próprio quarto, limpando a casa e ajudando a enxugar os pratos. "Eu gosto de fazer tudo dentro de casa, pra ajudar minha mãe", declarou o jovem.

Ana Leide, Miguel, Mariana e Manuela | Foto: Pedro Ivon

Como funciona a terapia?

As pessoas com transtorno de espectro autista em níveis mais leves, como é o caso de Miguel, podem viver de maneira independente, sem ter o cotidiano muito afetado pela sua condição. Entretanto, segundo o Ministério da Saúde, os casos mais severos exigem que o autista receba atenção constante ao longo de suas vidas, tanto durante o tratamento quanto na vida social, com as pessoas ao redor sendo mais inclusivas e acolhedoras.

De acordo com Rhuan Matheus, a melhor terapia para o TEA, sobretudo na infância e quando a comunicação está muito prejudicada, é a behaviorista, chamada de Análise Comportamental Aplicada (no inglês, ABA). “Há diversos profissionais que utilizam essas descobertas, as descobertas dessa escola. Há fonoaudiólogos que aplicam ABA, que são importantes [...], psicopedagogos que utilizam ABA, terapeutas ocupacionais que utilizam ABA, e psicólogos”, disse Rhuan. “Para que o tratamento alcance todas as potencialidades da criança, geralmente é preciso que haja um acompanhamento por todos esses profissionais”, explicou o psicólogo, que também ressaltou a importância de todos esses profissionais saberem que o uso das técnicas deve ser regulado pela moral, para que, em casos onde ocorrem dilemas morais, não se tente resolver tudo a qualquer custo.

Um apelo

Pestalozzi em Palmeira dos Índios | Foto: Diego Wendric/Assessoria

Segundo a presidente executiva da Pestalozzi em Palmeira, Lourdes Melo, a associação oferece atendimentos com psicólogo, psicopedagoga, fisioterapeuta e assistente social, além de também ter oficinas de artesanato e capoeira. Criada na cidade em 2021, a associação ainda padece de alguns problemas, que podem afetar o tratamento dos pacientes, como uma carência na quantidade de profissionais, que é pouca quando se olha para o número de pacientes, e nos materiais usados para a manutenção do local.

Ana Leide durante a entrevista | Imagem: Márcio Lima

“O número de usuários é muito grande, então o horário deles tem que ser mais reduzido, para poder atender todo mundo”, contou Ana Leide ao Portal Rádio Sampaio. “A Pestalozzi tá muito carente, ela é carente de tudo. Ela precisa de um olhar mais crítico, de um olhar mais solidário, principalmente da administração pública; e também dos empresários [...] O desenvolvimento [dos pacientes] não tá sendo completo por causa da carência, então precisa sim de um olhar, de uma responsabilidade maior por parte da administração pública, por parte dos vereadores, deputados, prefeitos”, afirmou.

Problema geral

Os problemas não são exclusivos da Pestalozzi. Recentemente, durante o programa Nosso Encontro, da Rádio Sampaio, um ouvinte de Palmeira dos Índios também fez um apelo às autoridades públicas, alegando que seu filho foi diagnosticado com autismo e que, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) há vagas disponíveis apenas em 2024. Ainda segundo o ouvinte, na Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), também existe uma fila, que só anda quando ocorre uma desistência ou um desligamento.

Abaixo, confira a entrevista completa com a Ana Leide e com o Miguel e veja um trecho da denúncia de Leide.

 

Vídeo: Márcio Lima

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