Foto: Antonio Augusto/STF
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) interrogou, na tarde desta terça-feira (10/6), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O ministro Alexandre de Moraes, do STF, conduziu o interrogatório, que durou pouco mais de 3 horas e acabou um pouco antes das 17h. Bolsonaro foi ouvido na ação que investiga uma suposta trama golpista para mantê-lo no poder após o resultado das eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ao longo do interrogatório, o ex-presidente admitiu que “hipóteses” foram debatidas, inclusive com comandantes das Forças Armadas, em relação à contestação do resultado das eleições. Ele garantiu, no entanto, que tudo foi feito “dentro das quatro linhas da Constituição”.
Ele ressaltou que as conversas nesse sentido, com comandantes militares, foram mais no sentido de “desabafo”. O ex-presidente disse, no entanto, que a ideia não foi adiante. “Não tinha clima, não tinha oportunidade, não tínhamos uma base minimamente sólida para se fazer qualquer coisa”, destacou.
Vice
O depoimento teve momentos descontraídos, assim como ocorreu com outros réus. O ex-presidente fez uma brincadeira e convidou Alexandre de Moraes para ser seu vice em 2026, arrancando risos da plateia e do próprio ministro do STF. Moraes respondeu objetivamente: “Declino”.
Negou
O ex-presidente rechaçou a declaração dada pelo tenente-coronel Mauro Cid, delator da trama golpista, de que Jair Bolsonaro teria recebido uma minuta de golpe e a enxugado, mantendo o nome de Alexandre de Moraes entre as autoridades a serem presas. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro fez a declaração durante seu interrogatório, na segunda-feira (9/6).
“Não procede o enxugamento [da minuta]”, garante Bolsonaro.
Baderna
Bolsonaro também negou participação em articulações golpistas e definiu a manifestação de 8 de janeiro de 2023, quando houve quebra-quebra na Praça dos Três Poderes, como “baderna”. Afirmou que, mesmo sem aval dele, existem "malucos" que pedem por um novo AI-5, uma intervenção militar no país.
"Tem os malucos que ficam com essa ideia de AI-5, de intervenção militar das Forças Armadas... que os chefes das Forças Armadas jamais iam embarcar nessa só porque o pessoal estava pedindo ali".
Outros pontos
-Bolsonaro disse, entre outros pontos, que trabalhou muito pelo voto impresso na Câmara dos Deputados, quando ainda era parlamentar. E confirma que sempre defendeu esse ponto.
-Ele reforçou sua retórica contra as urnas eletrônicas. Ao se referir a isso, o ex-presidente chegou a citar o atual ministro do STF Flávio Dino, da época que ele disputou as eleições de 2010 e foi derrotado no Maranhão. Ele diz que o próprio Dino colocou em dúvida as urnas eletrônicas.
- Bolsonaro reclamou de ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dizendo que foi tolhido em seus direitos durante as eleições de 2022, a partir do momento que não pôde usar fatos e fotos negativos sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e fatos positivos em relação a ele mesmo, Bolsonaro.
-Sobre a reunião em julho de 2022, na qual ele criticou a conduta de ministros do STF e do TSE, o próprio Moraes e Luis Roberto Barroso, Bolsonaro pediu desculpas. Ele disse que se tratava de um desabafo, apenas retórica do momento. “Tanto é que era uma reunião para não ser gravada, um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fossem outros três ocupando [esses cargos], teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe. Não tinha essa intenção de acusar de qualquer desvio de conduta dos senhores”, disse.
-O ex-presidente voltou a falar que sempre agiu “dentro das quatro linhas da Constituição” durante seu governo, tema recorrente em seus discursos.
- Ao ministro Luiz Fux o ex-presidente negou que tenha recebido voz de prisão de algum militar.
- Ao Procurador Geral da República, Paulo Gonet, o ex-presidente disse que não fez qualquer movimento ou incentivou um levante da população para contestar o resultado das eleições. Ele, inclusive, chamou os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 de “baderna”.
- Gonet quis saber de Bolsonaro se um movimento para anular eleições e prender autoridades pode ser entendido como “agir dentro das quatro linhas da Constituição”. O ex-presidente disse que nunca houve pontapé inicial de uma tentativa de golpe. Diz que apenas foram “hipóteses” debatidas, inclusive com comandantes das Forças Armadas.
- Bolsonaro ressaltou que as conversas nesse sentido, com comandantes militares, foram mais no sentido de “desabafo”.