Operação da Polícia Federal em vários estados brasileiros contra fraudes no INSS. — Foto: Polícia Federal
A Polícia Federal (PF) está aprofundando as investigações sobre o esquema bilionário de fraudes contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), revelado pelo portal Metrópoles. A nova linha de apuração aponta uma possível conexão entre os descontos indevidos em benefícios previdenciários e contratos de crédito consignado operados por empresas suspeitas.
Quebras de sigilo bancário revelaram que entidades envolvidas no escândalo, como Ambec, Unsbras (atualmente Unabrasil) e Cebap, fizeram pagamentos milionários a empresas que atuam na intermediação de empréstimos consignados. O objetivo, segundo os investigadores, seria facilitar a filiação em massa de aposentados a essas associações — muitas vezes sem o conhecimento dos segurados — e, com isso, autorizar o desconto de mensalidades diretamente na folha de pagamento via convênios com o INSS.
Desde 2019, mais de 6 milhões de segurados foram filiados a associações e sindicatos, gerando uma arrecadação estimada em R$ 6,3 bilhões por meio de descontos mensais. Apenas no último ano, esse montante chegou a R$ 2 bilhões. A prática resultou em milhares de ações judiciais contra as entidades, acusadas de fraudes nas filiações.
O caso motivou a Operação Sem Desconto, deflagrada em 23 de abril, e levou à queda do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi. A PF baseou-se em 38 reportagens do Metrópoles para justificar o inquérito, também acompanhado pela Controladoria-Geral da União (CGU).
O foco agora são os contratos firmados entre entidades e empresas de crédito. Um exemplo é a Cebap, que firmou contrato com a HKM, empresa do ex-gerente do BMG Herbert Kirstersson Menocchi. O acordo previa que os vendedores de crédito oferecessem, junto ao empréstimo, a filiação à associação, garantindo à empresa a primeira mensalidade do filiado e 30% das seguintes. A HKM teria recebido R$ 15 milhões. Outra empresa, o Balcão das Oportunidades, recebeu R$ 5 milhões da Ambec.
A PF também investiga outras entidades com fortes vínculos com empresários do setor de consignados, como a Amar Brasil (ABCB) e a Master Prev. Juntas, movimentaram mais de R$ 320 milhões, parte dos quais repassados a empresas de crédito.
O advogado Conrado Gontijo, que representa Menocchi, afirmou que a HKM atua legalmente e está à disposição para esclarecimentos. O BMG, por sua vez, informou que Menocchi não integra mais seus quadros desde 2022 e que desconhece qualquer envolvimento nos fatos apurados.