Pandemia faz SUS cortar 1 milhão de cirurgias

Por: Rádio Sampaio com O Globo
 / Publicado em 06/04/2021

Pandemia faz SUS cortar 1 milhão de cirurgias

Para dar tratamento aos doentes de covid-19, em 2020, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou quase 1 milhão de cirurgias a menos que no ano anterior, uma queda de 20% no período, de acordo com levantamento feito por uma equipe de pesquisadores a partir de informações registradas do Datasus.

Foram 4 milhões de procedimentos, na comparação com 5 milhões em 2019. As chamadas cirurgias eletivas, que não são emergenciais, tiveram a maior queda, de 41% na comparação com 2019. Os procedimentos emergenciais recuaram bem menos, 4,6%.

Com o avanço da pandemia, muitos hospitais suspenderam ou reduziram as cirurgias eletivas a fim de centralizar recursos (leitos, pessoal, medicamentos) no atendimento à população contaminada pelo coronavírus.

A expectativa é de um cenário ainda pior ao menos no primeiro semestre deste ano, com hospitais em colapso tanto na rede pública quanto na privada. Os procedimentos não realizados por causa da pandemia vão engrossar a fila de cirurgias do SUS, já extensa antes da pandemia.

Na comparação com a média dos quatro anos anteriores, feita para suavizar eventuais efeitos extraordinários nos números, as quedas ainda são expressivas: 15% para o total das cirurgias e 35% para os procedimentos eletivos. As cirurgias emergenciais caíram apenas 1,1% nessa comparação.

Na rede privada, a queda nos procedimentos eletivos também ficou em cerca de 40%, segundo Adelvânio Francisco Morato, presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH). Morato pondera que, a despeito de não serem considerados emergenciais, muitos casos exigem tratamento tempestivo. “Existem aquelas cirurgias puramente estéticas, que entram na conta, mas as outras são necessárias para que não se tornem casos de emergência”, diz.

Decidir quais cirurgias deveriam ser adiadas foi um dos grandes desafios dos médicos em meio à pandemia, afirma Bárbara Luizeti, da UniCesumar, de Maringá, que realizou o levamento juntamente com os estatísticos Gabriel Gonçalves da Costa e Igor Eckert, respectivamente, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), e outros colegas. O estudo foi publicado na plataforma preprints medRxiv.

Em todo o mundo, o adiamento foi apontado como uma medida importante para evitar sobrecarga de hospitais e possibilitar a reorganização dos sistemas de saúde em vista do grande fluxo de pacientes de covid-19. Mas a escassez de medicamentos e hemocomponentes, embora menor em 2020 que neste ano, também provocou essa redução, afirma. Morato, da FBH, diz que, embora a falta de insumos tenha ganhado escala em 2021, muitos hospitais já viviam esse problema no ano passado. “Ninguém estava preparado para a dimensão desta pandemia.”

Com a redução dos procedimentos cirúrgicos no ano passado e neste ano, o sistema de saúde vai conviver muito tempo com uma fila de cirurgias o que vai exigir do governo e dos gestores a área uma reformulação do sistema de saúde, afirma Morato. O aumento dos custos do sistema será um dos problemas a serem enfrentados.

No caso dos hospitais privados, em que 70% das empresas são pequenas e médias, com até cem leitos, as dificuldades anteriores à pandemia se agravaram. “Esses hospitais são a regra no interior do país”, diz Morato. Muitos poderão estar fechados ao fim da pandemia. “A rede hospitalar, o sistema de saúde brasileiro vai ter que ser rediscutido. Se você me perguntar como a rede vai lidar com o represamento de cirurgias, com toda a demanda fora a covid, eu não tenho essa resposta”.

No SUS, as taxas de redução de cirurgias foram similares nas regiões do país, segundo o estudo. Entre os tipos de cirurgia, as que mais diminuíram estão as endócrinas (48%), de mama (41%), bucomaxilofacial (37%), das vias aéreas superiores (36%), sistema digestivo e abdominal (30%) e cirurgias menores, como as subcutâneas (33%). Quedas menores: cirurgias reconstrutivas, osteomusculares, torácicas e oncológicas. Cirurgias obstétricas, como cesarianas, aumentaram 0,48%.

Luizeti destaca as cirurgias oncológicas, em que a maioria das diretrizes apontava que deveriam ser adiadas, se possível. Mas havia a preocupação com o adiamento. “O estudo encontrou redução de apenas 5,6% nas cirurgias oncológicas gerais, o que sugere que o Brasil optou pelo tratamento cirúrgico na maioria dos casos de câncer.”

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