Tatiane após a retirada da compressa cirúrgica que foi esquecida em sua cesárea. — Foto: Arquivo pessoal
A cabeleireira Tatiane Freitas dos Santos, de 42 anos, enfrentou anos de dor, incertezas e diagnósticos equivocados até descobrir, em março de 2025, que o caroço pulsante em sua barriga era, na verdade, uma compressa cirúrgica esquecida durante a cesárea do nascimento de seu filho, realizada em janeiro de 2020 no Hospital da Luz, da rede Amil, em São Paulo.
Desde o parto, Tatiane sentia dores intensas, que foram inicialmente atribuídas ao processo normal de recuperação. Durante os anos seguintes, ela passou por diversos médicos, com suspeitas que iam de isquemia intestinal a tumor benigno e até fibromialgia. Somente após um ultrassom, em setembro de 2024, e exames posteriores, foi identificada a presença de um “corpo estranho”: uma gaze cirúrgica de aproximadamente 15 cm, envolta por uma cápsula protetora formada pelo próprio organismo.
Mesmo com o diagnóstico, Tatiane enfrentou dificuldades para marcar a cirurgia de retirada. Somente após ingressar com uma ação judicial contra a Amil e o hospital, obteve, em dezembro de 2024, uma liminar autorizando a cirurgia. A retirada do objeto ocorreu apenas em março de 2025, após meses de espera, reclamações e mobilização na Justiça.
O caso reacende o debate sobre a responsabilidade compartilhada em falhas médicas. Segundo o Código de Defesa do Consumidor, profissionais, estabelecimentos de saúde e planos respondem solidariamente por erros na prestação de serviços.
Hoje em recuperação, Tatiane reflete sobre os impactos do erro médico em sua vida pessoal e emocional. “Não fui a mãe que gostaria de ter sido”, desabafa. Ela também teve de adiar o sonho de uma nova gravidez por recomendações médicas.
Em nota, a Amil afirmou que o Hospital da Luz solicitou perícia médica judicial e que o processo segue em andamento. A cabeleireira ainda aguarda decisão sobre os pedidos de indenização por danos morais e materiais.