Menina que cresceu em hospital recebe alta e vai para casa pela 1ª vez após 12 anos

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 / Publicado em 19/10/2019
Lele, como é chamada pelos entes queridos, morava em Coari quando apresentou os primeiros sintomas da doença degenerativa. — Foto: Carolina Diniz/G1

Lele, como é chamada pelos entes queridos, morava em Coari quando apresentou os primeiros sintomas da doença degenerativa. — Foto: Carolina Diniz/G1

A emoção tomou conta do Hospital e Pronto Socorro da Criança da Zona Oeste nesta sexta-feira (18). Após 12 anos internada, Letícia Kerollen de Souza Oliveira, de 14, recebeu alta médica da unidade.

Diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME) desde 1 ano e 7 meses de vida, ela contrariou as primeiras expectativas, ganhou alta, e se despediu da “família” de médicos e enfermeiros que a acompanhou durante todo seu crescimento.

Lele, como é chamada pelos entes queridos, morava em Coari quando apresentou os primeiros sintomas da doença degenerativa. Primeiro, vieram as convulsões, depois os desmaios e a dificuldade para respirar. Passou oito anos no leito da Unidade de Terapia Itensiva (UTI) e realizou o sonho de ser liberada, na tarde desta sexta, para morar no conforto do lar.

“Eles falavam que ela nunca ia poder sair da UTI, só sairia se ela tivesse cuidado domiciliar, que na época não existia. Foi um momento muito difícil para nós”, contou a mãe Irlene de Souza, sobre a descoberta do diagnóstico.

Irreversível, a doença exige diversos cuidados especiais – como aparelho de respiração, sugador, sonda alimentar e fraldas – além de profissionais como terapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo e enfermeiro. A mãe dará continuidade ao tratamento de Lele na residência, em Manaus, com auxílio do programa Melhor em Casa, que fornece serviços de uma equipe multidisciplinar.

Letícia, diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME), recebeu alta nesta sexta-feira (18) do Hospital da Criança da Zona Oeste — Foto: Carolina Diniz/G1

Letícia, diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME), recebeu alta nesta sexta-feira (18) do Hospital da Criança da Zona Oeste — Foto: Carolina Diniz/G1

Para Irlene, a alta do hospital é a “realização de um sonho, graças a Deus e a todos do hospital que cuidaram dela desde bebezinha”.

Segundo a técnica em enfermagem Núbia Belfort, a adolescente saiu poucas vezes da unidade de saúde. Com o fim da internação na UTI, uma equipe médica acompanhou Lele uma vez ao shopping e à igreja durante o Natal, além de pequenos passeios na frente do pronto-socorro.

Com a saída dela nesta sexta-feira, todos profissionais ficaram comovidos. “A gente nunca pensou que esse dia fosse chegar. Eu trabalhei com ela desde quando chegou na UTI. Para mim, ela é como uma filha”, contou Núbia, emocionada com tamanha alegria.

"Ainda pequena, ela dizia que queria sair, ver o sol e fazer churrasco".
Para o pediatra Luiz Afonso, é um acontecimento histórico para o Amazonas e para o Brasil.

“A expectativa de vida é em torno de 20 anos. Darmos alta a um paciente com este tipo de doença é difícil, por conta de todo contexto, onde a criança precisa de respirador, de enfermeiros e uma equipe multi”, contou.

Em casa, uma festa com música, familiares, amigos e funcionários do hospital aguardava a menina. O quarto, cor de rosa, foi o auge da surpresa preparada para a chegada dela.

“Vai ser nosso primeiro Natal. É um sonho realizado, trazer a Letícia pra casa e poder conviver com ela”, comentou o padrasto Thiago Santos de Lima.

A vida no hospital

Letícia, diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME), recebeu alta nesta sexta-feira (18) do Hospital da Criança da Zona Oeste — Foto: Carolina Diniz

Letícia, diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME), recebeu alta nesta sexta-feira (18) do Hospital da Criança da Zona Oeste — Foto: Carolina Diniz

Crescer sem poder se movimentar ou sequer respirar sem ajuda de aparelhos, não é tarefa fácil. Apesar das dificuldades, Letícia sempre foi uma criança alegre, vaidosa e otimista em relação ao tratamento, conforme relatos da equipe médica.

Segundo a equipe, Letícia sempre teve o “máximo de humanização possível”. Médicos e enfermeiros realizavam brincadeiras, passeios e, inclusive, cuidados com a beleza.

“Ela estuda, tem aulas no quarto e faz provas. Ela é muito inteligente e extremamente vaidosa. Ama pintar as unhas, passar maquiagem, fazer ‘chapinha’ e usar lacinhos. É uma menina normal, só não tem os movimentos”, contou a fisioterapeuta Morgana Peixoto.

Os exercícios ao longo dos anos foram essenciais para alcançar o resultado de agora. “Todas as crianças aqui [com a mesma condição] tem a face 100% paralisada, mas a Letícia consegue sorrir. Ela responde muito bem ao tratamento de fisioterapeuta e fonoaudiologia”, acrescentou.

Despedida

Equipe médica acompanhou Letícia até a saída da unidade hospitalar na Zona Oeste de Manaus — Foto: Carolina Diniz

Equipe médica acompanhou Letícia até a saída da unidade hospitalar na Zona Oeste de Manaus — Foto: Carolina Diniz

Às vésperas de ser liberada, Letícia expressou seus sentimentos perante todo atendimento que recebeu nos 12 anos em que ficou internada.

“Ela disse estava alegre, mas triste ao mesmo tempo. Ela falou: aqui é a minha família!”, compartilhou a diretora da unidade de saúde, Júlia Marques, que acrescentou ainda Lele era a ‘princesinha’ do hospital.

“É um acontecimento! Desde que ela se entende por gente, ela tá aqui dentro. Então todos profissionais são a família dela”, afirmou Julia.

Quando Letícia, acompanhada da mãe, se aproximou da ambulância que as levariam para casa, uma salva de palmas e inúmeras lágrimas de alegria tomaram conta do lugar.

“Pra mim é uma felicidade imensa vê-la saindo assim, ela sempre pedia, desde pequena. E hoje ela conseguiu! Foi difícil de imaginar, porque eles [pacientes] têm aquela melhora e depois regride, mas ela sempre foi otimista”, concluiu Núbia Belfort.

*   Com G1

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