Baby do Brasil — Foto: Reprodução
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) acionou o Ministério Público de São Paulo para investigar um culto evangélico realizado na boate D-Edge, na Barra Funda, na Zona Oeste da capital paulista, após a cantora Baby do Brasil viralizar nas redes pedindo a vítimas de abusos sexuais que "perdoem" seus abusadores, inclusive se eles forem da própria família.
"A fala de Baby do Brasil tem forte impacto pois, além de artista famosa, ela é uma líder religiosa, que leva as mulheres a acreditarem que não devam denunciar seus agressores, que devem aceitá-los. Ao contrário, as mulheres devem ser estimuladas a não aceitar, a denunciar, procurar ajuda e justiça "— disse a parlamentar ao GLOBO.
Sâmia afirmou que o discurso feito por Baby é "inaceitável e criminoso" e apontou na denúncia obtida pelo GLOBO que a maioria dos abusos acontecem dentro de casa, praticados por falimiares. A deputada citou que o ano de 2024 registrou 83.988 vítimas de estupro e estupro de vulnerável, indicando um aumento de 6,5% em comparação ao ano de 2023, e que em 61% dos casos as vítimas têm até 13 anos.
"Baby flagrantemente cometeu incitação ao crime e condescendência criminosa, pois reforçou uma cultura de silenciamento e impunidade, incentivando que crimes de violência sexual fiquem sem a devida responsabilização e favorecendo aqueles que o cometeram", criticou a deputada.
Sâmia também diz na comunicação ao MP que o discurso da cantora "ultrapassa os limites da liberdade religiosa e de expressão". Para ela, a fala vai além de orientação espiritual individual e incita conduta que pode resultar na impunidade de crimes graves.
"Essa indignação é igualmente compartilhada por esta parlamentar, tendo em vista o reconhecimento da notificante (Baby do Brasil) não apenas como artista, mas também como autoridade religiosa, cuja influência pode levar pessoas — especialmente vítimas vulneráveis — a deixarem de denunciar ou até mesmo a encobrir abusos", afirma a deputada na denúncia.
Além de investigar Baby do Brasil, Sâmia também pediu ao MPSP que investigue a casa noturna D-Edge "por omissão". Segundo a parlamentar, a falta de ação do sócio-proprietário da casa noturna D-EDGE, Renato Ratier, para impedir a disseminação de discursos potencialmente criminosos em seu estabelecimento pode ser considerada condescendência criminosa, conforme o artigo 349 do Código Penal.