Foto: Liam Cavalcante, da Rede Amazônica
Em vez de começar a baixar, como costuma acontecer em julho, o Rio Negro continua subindo em Manaus. Na sexta-feira (4), o nível do rio chegou a 29,04 metros, segundo o Porto da capital. A última vez que isso ocorreu nesse período do ano foi em 2014.
Apesar da elevação, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) avalia que o Rio Negro não deve atingir a marca histórica de 30,02 metros, registrada em 2021.
Além da capital, o nível dos rios também continua subindo em cidades como Itacoatiara, banhada pelo Rio Amazonas, e Manacapuru, às margens do Rio Solimões.
Segundo o Serviço Geológico do Brasil, as chuvas que caíram em Manaus e em outras cidades da região nos últimos dias influenciaram diretamente a elevação das águas. Com o avanço da cheia, 40 dos 62 municípios do estado estão em situação de emergência. Ao todo, mais de 530 mil pessoas já foram afetadas.
Manaus - Rio Negro
Comparativo mostra Manaus na seca de 2024 e na cheia de 2025 — Foto: Rede Amazônica
De acordo com a pesquisadora em Geociências e superintendente regional do Serviço Geológico do Brasil, Jussara Cury, a cheia prolongada em Manaus é resultado direto de dois fatores principais: o acúmulo de chuvas na parte norte da bacia amazônica e o represamento natural causado pelo Rio Solimões, que ainda apresenta níveis elevados.
“Nesse momento, estamos com chuvas concentradas na parte norte da bacia, o que inclui sub-bacias como a do Rio Negro e do Branco. Esse volume de água está sendo represado pelos níveis ainda altos do Solimões. Como os dois rios se encontram na região metropolitana de Manaus, o Rio Negro acaba ficando parado, sem conseguir escoar", explicou.
Além disso, o fenômeno não se restringe à capital. Os altos níveis do rio também são observados em cidades localizadas antes de Manaus, no caminho que o rio percorre até a capital, como Manacapuru, e também depois de Manaus, no sentido que o rio segue, como Itacoatiara.
“Temos registros de cotas acima de 29 metros não só em Manaus, mas também em Manacapuru e Itacoatiara. Isso mostra uma estabilidade dos níveis em toda essa área da bacia, dificultando o início da vazante", esclareceu Jussara.
As chuvas em pleno mês de julho causam estranhamento, mas, segundo pesquisadora, estavam previstas nos boletins climáticos e têm origem em influências oceânicas. “Essas chuvas agora em julho parecem atípicas, mas estavam previstas nos boletins climáticos. Elas são influenciadas pelo Atlântico, que tem trazido mais umidade para a região.”
Cheia dos rios no AM coloca 40 dos 62 minucípios do estado em situação de emergência
De acordo com o último boletim do Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais, 133.711 famílias foram atingidas — cerca de 534 mil pessoas afetadas diretamente. As nove calhas de rios do Amazonas seguem em processo de cheia, com picos variando entre março e julho.
Segundo os decretos municipais:
Para enfrentar a situação, o Governo do Amazonas já enviou:
O apoio tem alcançado principalmente municípios como Humaitá, Manicoré, Apuí, Boca do Acre , Novo Aripuanã, Borba, Anamã, entre outros.
Na área da educação, 444 alunos foram impactados em quatro municípios — Anamã, Itacoatiara, Novo Aripuanã e Uarini — e seguem com aulas remotas pelo programa “Aula em Casa”.
Cheia do Rio Negro já impacta negativamente trabalhadores do Centro de Manaus
Em Manaus, a prefeitura intensificou ações emergenciais nos bairros mais afetados, como Educandos, São Jorge, Matinha, Presidente Vargas e Mauazinho.