Bolsonaro aposta na influência de Trump para tentar reverter inelegibilidade

Por: Rádio Sampaio com Correio Braziliense
 / Publicado em 19/01/2025

Sem passaporte, Bolsonaro não consegue embarcar para posse do presidente eleito Donald Trump, nos Estados Unidos - (crédito: AFP)

Nos corredores do Supremo Tribunal Federal (STF), se dá como certo que o ex-presidente Jair Bolsonaro será julgado neste ano pela Corte. A expectativa é de que o ex-presidente seja julgado ainda neste semestre, após a apresentação de uma denúncia pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

De acordo com matéria do Correio Braziliense, Jair Bolsonaro se apega ao presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para tentar reverter revezes que está sofrendo na Justiça. No sábado (18), no Aeroporto de Brasília, enquanto a esposa Michelle Bolsonaro embarcava para Washington, ele criticou as decisões do ministro Alexandre de Moraes.

A defesa de Bolsonaro apresentou diversos recursos pleiteando a devolução do passaporte do cliente. Porém, Moraes, que é o relator do inquérito em que o ex-presidente figura como investigado, negou todas as solicitações. O militar da reserva é acusado de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. De acordo com a Polícia Federal, ele seria o principal beneficiado por uma eventual tomada de poder e derrubada das instituições democráticas. O caso está sob análise da PGR e a previsão é de que a denúncia seja oferecida no começo do próximo mês.

Bolsonaro acredita que Trump vai comprar a briga e pressionar a Justiça brasileira e o governo para devolver os seus direitos políticos, que estão suspensos por oito anos por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Eu escuto o Alexandre de Moraes atacando a direita. Ou seja, ele toma partido político. Eu sou do tempo em que os juízes falavam nos autos, agora é diferente. Eu tenho certeza de que, recuperando minha elegibilidade, eu ganho as eleições. Agora, inelegível, é uma prova de que estamos em uma democracia igual à da Venezuela, onde a oposição é eliminada", disse o ex-presidente.

"Já tem influência no mundo todo da presença dele (Trump). Primeiros-ministros que estão caindo, Hamas fazendo acordo, o Trudeau renunciou. No México, grandes apreensões foram feitas. Gostaria de apertar a mão dele, não daria pra conversar. Mas, com toda certeza, se ele me convidou, ele tem a certeza de que pode colaborar com a democracia do Brasil afastando inelegibilidades políticas, como essas duas minhas que eu tive", declarou o ex-presidente, que afirmou ser tratado como um preso político.

"Sou um preso político, apesar de estar sem tornozeleira eletrônica. Espero que a sua excelência não queria colocar em mim para me humilhar de vez", completou.

Líder da direita

Michelle Bolsonaro falou brevemente com a imprensa antes de embarcar. Ela afirmou que o marido é alvo de perseguição. "Meu marido está sendo perseguido, mas, assim como aqueles que Deus envia, serão perseguidos. A gente sabe disso", disse.

"Que Deus tenha misericórdia da nossa nação, do meu marido, assim como de um grande líder. Ele é o maior líder da direita, que elegeu, (mesmo) 'inelegível', o maior número de vereadores e prefeitos", completou.

Processo

Jair Bolsonaro afirmou que vai processar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A declaração ocorreu em resposta ao chefe da economia, que acusou o senador Flávio Bolsonaro de comprar imóveis com dinheiro desviado de servidores. "Eles não têm o que fazer e sempre me acusam de alguma coisa. Falaram, inclusive, que eu comprei imóveis sem origem de dinheiro. Ele me acusa do que ele faz. Ele não olha para o que o chefe dele (presidente Lula) fez. (...) Eu só tenho um caminho: acreditar na Justiça e processá-lo", disse Bolsonaro.

Flávio foi citado em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como o responsável por uma movimentação atípica de R 1,2 milhão em uma conta no nome de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador.

Imprensa repercute retenção de passaporte

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de negar a devolução do passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi repercutida pelos principais jornais internacionais nos últimos dias.

O jornal americano The New York Times repercutiu a proibição com uma análise das semelhanças entre Bolsonaro e Trump, e por qual razão os dois políticos traçaram caminhos diferentes desde o momento em que deixaram o poder.

O jornal The Wall Street Journal, dos Estados Unidos, mostrou que Bolsonaro não irá à posse de Trump mesmo sendo um dos "mais próximos aliados" do presidente eleito na América Latina e com um convite para o evento.

O jornal americano The Washington Post destacou os argumentos da decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, como o de que Bolsonaro não detém posição que lhe confira a representação oficial do Brasil na posse de uma autoridade estrangeira. A reportagem detalhou o histórico de conflitos na Justiça entre Moraes e Bolsonaro e cita que o ex-presidente considera o magistrado um "inimigo pessoal".

O britânico The Guardian afirmou que, após a negativa da Suprema Corte brasileira, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) representará o pai na posse de Trump. O jornal afirmou que o deputado federal é um potencial candidato para a eleição presidencial de 2026.O El País, da Espanha, relembrou que o bolsonarismo celebrou "com euforia" a vitória de Trump em novembro de 2024.

A proibição da viagem de Bolsonaro também foi repercutida pela Al Jazeera, do Qatar, e pelo francês Le Figaro. Enquanto o principal jornal do Oriente Médio destacou que o ex-presidente brasileiro se sente vítima de "lawfare", termo em inglês para "perseguição judicial", o jornal francês citou que, além da investigação por golpe de Estado que retirou seu passaporte, Bolsonaro foi condenado em uma ação eleitoral que o torna inapto a concorrer a cargos eletivos até 2030.

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