Vício em celular pode afetar o cérebro das crianças
Nas mãos de adultos, o celular pode se tornar uma dependência. Mas, em crianças e adolescentes, o uso desenfreado também pode afetar o desenvolvimento do cérebro e a concentração.
Isso porque smartphones e outras telas são uma fonte inesgotável de estímulos rápidos. Em poucos segundos, comentários, curtidas e a atualização constante do feed de redes sociais provocam a liberação de dopamina no cérebro, neurotransmissor que dá sensação de prazer e satisfação.
Só que a dopamina vicia e é capaz de gerar um looping altamente perigoso para a saúde. Quanto maior o contato com os estímulos rápidos, maior é a chance de repetir e aumentar esse tipo de comportamento.
"Além de a pessoa ter o prazer imediato, ela aumenta a impulsividade e faz com que dificulte a estratégia de controle de uso. Essa alteração no nosso cérebro pode acontecer e não se reverter", disse Julia Khoury, psiquiatra que fez mestrado e doutorado em dependência digital.
O perigo da exposição exagerada de crianças e adolescentes a telas é que o cérebro pode acabar sendo "recrutado" por esses estímulos rápidos, se tornando uma forma de pensamento preponderante, como explica o psicólogo Cristiano Nabuco, PhD em psicologia clínica de dependências tecnológicas.
Isso tem a ver com a maturação cerebral: o cérebro é uma parte do corpo humano que vai tomando forma com a passagem do tempo. Antes dos 25 anos, essa maturação não está completamente desenvolvida. Ou seja: o cérebro ainda está sendo "moldado". A "bomba" de estímulos rápidos que sai das telas pode, nessa etapa da vida, afetar o desenvolvimento do cérebro e a capacidade de concentração, uma herança que será levada para a fase adulta - e pode ser irreversível.
"Isso faz com que essa população se torne biologicamente muito mais vulnerável a esse tipo de estimulação", afirma Nabuco. "Quanto mais eu uso as telas, mais um determinado tipo de operação é recrutada no meu cérebro", diz ainda.
Segundo os especialistas, conforme o pensamento vai sendo solicitado para estímulos rápidos, mais ele vai se tornando prevalente e preponderante no funcionamento mental.
“Cérebros de crianças e adolescentes, que têm uma maturação maior, acabam não sendo treinados para se concentrar por um tempo maior”, explica a psquiatra Julia Khoury.
Segundo Cristiano Nabuco, isso vai ao ponto de prejudicar o raciocínio. "Quando você dá para esses jovens que passam muito tempo em frente às telas um material que envolve um raciocínio mais denso e mais profundo, eles não conseguem fazer", diz.
O psicólogo, que coordena uma unidade pioneira no país, localizada em São Paulo (SP), para atendimento de pacientes dependentes da tecnologia, afirma que as novas gerações vivem o que chama de "autismo digital".
"Há relatos de casos de jovens que chegam a ficar conectados 40, 50 horas ininterruptas, sem sair do lugar, exatamente em função disso", diz.
"Alguns pesquisadores dizem que essas novas gerações são os 'filhos do quarto'. Eles não saem mais de casa. Tudo que precisam fazer eles fazem na frente da tela", disse Cristiano Nabuco, psicólogo.
Para Cristiano Nabuco, crianças e adolescentes não devem ser estimulados ao uso frequente de celulares e telas. Por isso, pais e responsáveis devem ficar atentos ao dar um aparelho na mãos dos filhos.
Confira algumas dicas do especialista:
"A gente precisa de tempo ocioso. Olhar para a janela durante uma viagem e não para a tela de um tablet", diz o psicólogo Cristiano Nabuco.