O assassinato da ialorixá Mãe Bernadete, liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), motivou uma série de manifestações de movimentos sociais de resistência negra. O caso que completou uma semana na quinta-feira (24). Ao Correio Braziliense, a coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade de Gênero e Raça e grupo Jurídico da Coalizão Negra Por Direitos, Maria Sylvia Aparecida de Oliveira, ressaltou que os ativistas acompanham a história com “extrema preocupação”.
“Não é uma situação recente, né? Sabemos que, nos últimos 10 anos, foram assassinados 30 lideranças quilombolas. E, agora, a gente tem o assassinato da mãe Bernadete. Infelizmente, isso não é novidade para nós. Nós lutamos contra a violência do Estado desde que esse país começou a ser estruturado”, destaca Oliveira.
Na avaliação dela, há um acirramento global do racismo e que a ascensão da extrema-direita no mundo que fomenta a discriminação e a xenofobia. “O que nós temos de possibilidade é lutar”, diz. “Meu entendimento sobre a política pública de segurança do Estado para a população negra é o extermínio".
Ela acredita que as possibilidades de medidas para que haja mudanças significativas na maneira como o governo lida com a violência contra essas minorias é a reestruturação e a reformulação do que o Estado brasileiro entende como segurança pública.
“Isso tem vários aspectos. O que a gente mais cobra é a desmilitarização das nossas polícias, mas tem muitas outras coisas envolvidas, como a modificação da forma de atuação dos agentes públicos em relação à população negra”, ressalta.
O Instituto de Referência Negra Peregum também solidariza com as vítimas da tragédia. Para o grupo, as comunidades quilombolas sofrem diversas ameaças e isso torna a luta quilombola cada vez mais forte pela titulação e reconhecimento de suas terras.
Maria Bernadete Pacífico, de 72 anos, líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, foi assassinada na noite da última quinta-feira (18). Um grupo invadiu a casa em que ela morava, no município de Simões Filho, região metropolitana de Salvador, e fez de reféns parentes da ialorixá antes de matá-la com 12 tiros. O caso é investigado pelas forças policiais.