Pe. Davide Pagliarani (Foto: FSSPX) e Papa Francisco (Foto: Reuters)
Na última segunda-feira (18), o Dicastério para a Doutrina da Fé publicou a declaração Fiducia supplicans, dizendo que “casais irregulares” e uniões entre pessoas do mesmo sexo poderiam receber bênçãos por parte de sacerdotes. O documento foi aprovado pelo Papa Francisco. Na última terça-feira (19), o superior-geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), padre Davide Pagliarani, emitiu um comunicado sobre o assunto.
O texto explica que não é possível abençoar os integrantes de um casal sem abençoar a união em si, e que isso seria “uma realidade que é intrinsecamente má e escandalosa”. “Fomentar pastoralmente esse tipo de bênção leva, na prática, inexoravelmente à aceitação sistemática de situações incompatíveis com a lei moral, diga-se o que se disser”, diz o padre Pagliarani.
Ainda segundo ele, a “linguagem enredada e vestimenta sofisticada” da Fiducia supplicans não conseguem ocultar a “realidade elementar” das bênçãos, que seria a de, segundo o padre, “confirmar essas uniões em sua situação intrinsecamente pecaminosa e encorajar outros a segui-las”.
Para ler o comunicado na íntegra, em inglês ou espanhol, aqui e aqui.
A FSSPX é uma sociedade sacerdotal internacional fundada pelo arcebispo Dom Marcel Lefebvre em 1970, com sede em Menzingen, na Suíça. Seus bispos e padres guardam a doutrina e os ritos tradicionais da Igreja conforme ensinados e praticados desde os primórdios da Igreja até a década de 1960, quando o Concílio Vaticano II propôs mudanças radicais no que vinha sendo ensinado e feito até então.
Bispos de Malawi, na África | Foto: reprodução/internet
O arcebispo Dom Tomash Peta e seu bispo auxiliar Dom Athanasius Schneider, da arquidiocese de Maria Santíssima de Astana, no Cazaquistão, decidiram não seguir a declaração do Vaticano, emitindo comunicado afirmando que as bênçãos nele autorizadas contradizem “direta e seriamente a Revelação Divina e a doutrina da Igreja”.
O presidente da Conferência Episcopal do Malawi, na África, Dom George Desmond, também optou por não permitir as bênçãos em todo o território do país, em uma declaração assinada por outros bispos pertencentes à conferência. O motivo seria para não confundir os fiéis. Ainda na África, os bispos do país de Zâmbia também se recusaram a aplicar a declaração do Vaticano.
De acordo com o estabelecido em documentos prévios da Igreja Católica, o novo ensinamento da Fiducia supplicans não pode ser considerado infalível ou obrigatório. Apesar de ter a aprovação do Papa Francisco, o Concílio Vaticano I, em sua 4ª sessão, estabeleceu que o Papa é infalível sob certas condições, que seriam a de definir alguma doutrina sobre fé e moral, falando enquanto sucessor de São Pedro e querendo falar à Igreja inteira e não a uma parcela dela.
É possível verificar, contudo, que o decreto não define doutrina alguma e não obriga os sacerdotes católicos a dar as bênçãos, caso lhes sejam requisitadas, deixando a cargo de um “discernimento prudente e paterno”. Além disso, vai de encontro ao que já havia sido definido anteriormente, como dito pelos bispos do Cazaquistão.
A Igreja Católica estabelece como uniões irregulares aquelas onde um dos integrantes do casal já recebeu validamente o sacramento do matrimônio anteriormente e veio a se separar, unindo-se a outra pessoa posteriormente. Nesse caso, se estaria cometendo um pecado de adultério, pois a união do primeiro matrimônio é considerada indissolúvel.
No caso das uniões entre pessoas do mesmo sexo, a doutrina perene da Igreja ensina que não podem ocorrer. Entre os motivos está a de que elas não cumprem aquele que é indicado como o objetivo primeiro do casamento, a geração de filhos de maneira natural, como ensinado em documentos pontifícios anteriores, como a Casti Connubii, do Papa Pio XI, e mesmo nas escrituras bíblicas.