Afundamento do solo obrigou moradores a deixarem suas casas — Foto: Jonathan Lins/G1
Um relatório técnico-científico elaborado por pesquisadores brasileiros e estrangeiros sobre o fenômeno de subsidência que provocou o afundamento do solo em cinco bairros de Maceió foi apresentado nesta sexta-feira (8), durante audiência pública. O documento, solicitado pelo Núcleo de Proteção Coletiva da Defensoria Pública, sugere que a Braskem revise o mapa das áreas atingidas pela mineração, apontando que a atual delimitação pode não refletir a realidade.
O estudo, iniciado em fevereiro de 2025, utilizou dados oficiais da Defesa Civil de Maceió e segue padrões internacionais de rigor científico e independência metodológica. Entre os autores estão o geólogo e professor da Universidade Federal do Espírito Santo, Marcos Eduardo Hartwig, além de Magdalena Vassileva (PhD), Fábio Furlan Gama (Doutor em Ciência), Djamil Al-Halbouni (PhD) e Mahdi Motagh (PhD).
Segundo Hartwig, embora alguns indicadores sugiram estabilização do solo, análises isoladas mostram movimentações significativas que contrariam a média geral. “Os números, às vezes, não condizem com a realidade, porque alteram muito as faixas. É um problema complexo, com vários fatores combinados”, explicou, destacando que há registros de movimentação desde 2004.
A apresentação gerou expectativa entre moradores de áreas ainda não reconhecidas oficialmente como afetadas, como o bairro Flexais, que enfrenta rachaduras constantes em imóveis. “É a nossa última esperança, porque a Defesa Civil omite informações. As casas continuam rachando, e quem não rachava agora está rachando”, afirmou Antônio Domingos dos Santos, presidente do Instituto Flexais e Adjacências.
O defensor público Ricardo Melro ressaltou que o relatório é direcionado principalmente às vítimas do colapso ambiental. “Não veio para agradar nem a Braskem, nem ninguém. Se apontar correções de rumo, as vítimas saberão que é hora de cobrar”, disse.
A Braskem informou que, desde 2019, atua para garantir a segurança das pessoas e desenvolver ações de mitigação, reparação e compensação dos impactos da subsidência, dentro e fora do mapa definido pela Defesa Civil de Maceió. A Defesa Civil Estadual disse não ter tido acesso ao documento, e a Defesa Civil Municipal não se manifestou.
O problema, identificado em 2018 no bairro Pinheiro, já levou à evacuação de cerca de 60 mil pessoas e foi agravado com o colapso de uma mina sob a Lagoa Mundaú, no Mutange, em dezembro de 2023. Estudos anteriores, como o elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) em 2022, já apontavam que os danos se estendem a regiões fora da área oficial de risco, incluindo Flexal de Cima, Flexal de Baixo, Bom Parto e Marquês de Abrantes.
A Braskem esclarece que desde 2019 atua em Maceió com foco na segurança das pessoas e no desenvolvimento de medidas para mitigar, reparar ou compensar os efeitos da subsidência do solo nos bairros de Bebedouro, Bom Parto, Pinheiro, Mutange e Farol. O trabalho desenvolvido dentro e fora do mapa definido pela Defesa Civil Municipal – órgão público que detém a competência para a definição de áreas de risco e de monitoramento - é baseado em critérios e estudos técnicos e amparado por acordos firmados com as autoridades e homologados pelo Judiciário. Tanto a área definida pela DCM como seu entorno são constantemente monitorados por uma rede de equipamentos robusta, capaz de detectar movimentos milimétricos do solo. Além disso, o Comitê de Acompanhamento Técnico (CAT) faz vistorias regulares no entorno da área e, até o momento, não houve indicação de adoção de um novo mapa.