Policiais com equipamento antimotim cercam área da Prefeitura de Los Angeles durante o toque de recolher, após dias de protestos em resposta às operações do governo Trump contra imigrantes — Foto: RINGO CHIU / AFP
A polícia de Los Angeles, nos Estados Unidos, iniciou "prisões em massa" de manifestantes depois que um toque de recolher entrou em vigor em parte do centro da cidade, segundo anunciou a CNN. O número de detenções já é de pelo menos 378 pessoas nos últimos quatro dias - incluindo quase 200 prisões somente na terça-feira - de acordo com o chefe de polícia, Jim McDonnell.
O Departamento de Polícia de Los Angeles divulgou o início das prisões, enquanto vários grupos de protesto continuavam a se reunir na zona designada para o toque de recolher - cerca de 2,5 quilômetros quadrados, dos mais de 500 que compõem a metrópole californiana, segunda maior cidade dos Estados Unidos.
Os protestos contra a política imigração dos Estados Unidos se tornaram cada vez mais violentos.
- "Os manifestantes que estão lá pacificamente irão para casa. São agitadores que ainda estão por aí. E assim vai separar a multidão e dar uma chance para a polícia" - disse ele.
Os protestos ocorreram na terça-feira (10), concentrando-se em frente a um prédio federal que se tornou o epicentro do descontentamento social contra as operações de detenção e deportação de imigrantes irregulares.
No meio da tarde de terça, a polícia começou a dispersar as pessoas com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.
A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, destacou o controle sobre a cidade:
— "Acho importante não minimizar o vandalismo e a violência que ocorreram lá: foram significativos" — disse Bass na entrevista coletiva. — "Mas é extremamente importante saber que o que está acontecendo neste quilômetro quadrado não está afetando a cidade. Algumas das imagens dos protestos e da violência dão a impressão de que se trata de uma crise que atinge toda a cidade, mas não é".
A mão pesada de Trump
Os protestos em Los Angeles começaram pacificamente na sexta-feira (6), motivados por operações dos agentes de imigração do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega, na sigla em inglês) para prender imigrantes em situação irregular na cidade.
No entanto, a adesão crescente de manifestantes nas ruas acabou gerando episódios de violência e enfrentamento contra agentes federais, além de depredação de carros e prédios públicos.
Em resposta, o presidente Donald Trump anunciou, ainda no sábado, o envio de dois mil soldados da Guarda Nacional, que chegaram no dia seguinte com a função de proteger agentes federais e prédios públicos.
A decisão foi considerada "propositalmente inflamatória" pelo governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, e algo que não era visto há décadas, segundo a imprensa americana.
"É intencionalmente provocativo e só aumentará as tensões. Estamos em estreita coordenação com a cidade [Paramount] e o condado [Los Angeles]", postou no X o governador Newsom, apontado como um potencial candidato à sucessão de Trump.
Ignorando as críticas e os riscos, Trump dobrou a aposta na segunda-feira (9), com o envio de mais dois mil militares da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais, cujas funções não ficaram claras, segundo Bass.
Newsom entrou com uma ação de inconstitucionalidade e uma outra medida, exigindo que as tropas em Los Angeles não exerçam funções de aplicação da lei, como atuar em operações migratórias. Mas um juiz federal rejeitou o pedido, e uma nova sessão foi marcada para esta quinta-feira.
Enquanto o presidente Donald Trump intensificou sua retórica contra as manifestações, o governador Gavin Newsom chegou a acusar o atual chefe da Casa Branca de tirania.
- "Enviar combatentes para as ruas é algo sem precedentes e ameaça os fundamentos da nossa democracia. [Trump] está agindo como um tirano" - disse o democrata.
De fato, os reservistas da Guarda Nacional não eram mobilizados por um presidente, contra a vontade de um governador, desde 1965, no auge do movimento dos direitos civis.
A lei americana proíbe, em grande parte, o uso do Exército como força policial, salvo em caso de insurreição. E Trump não descartou invocar a Lei de Insurreição, o que lhe daria autorização para usar tropas regulares em todo o país.