Um dos suspeitos de hackear os celulares de autoridades disse que a ex-deputada Manuela D'Ávila (PCdoB) o colocou em contato com o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil. O depoimento de Walter Delgatti Filho foi revelado nesta sexta-feira (26/07) pela emissora de televisão GloboNews.
Após a divulgação do depoimento de Delgatti, a ex-deputada publicou uma nota na rede social Facebook dizendo que o seu celular havia sido invadido e confirmou ter sido procurada por uma pessoa não identificada, a qual ela pôs em contato com Greenwald.
"No dia 12 de maio, fui comunicada pelo aplicativo Telegram de que, naquele mesmo dia, meu dispositivo havia sido invadido no Estado da Virginia, Estados Unidos. Minutos depois, pelo mesmo aplicativo, recebi mensagem de pessoa que, inicialmente, se identificou como alguém inserido na minha lista de contatos para, a seguir, afirmar que não era quem eu supunha que fosse, mas que era alguém que tinha obtido provas de graves atos ilícitos praticados por autoridades brasileiras", relatou.
"Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, [a mesma pessoa] afirmou que queria divulgar o material por ele recolhido para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza", acrescentou Manuela D'Ávila.
A ex-candidata disse que chegou a suspeitar que as mensagens fossem uma armadilha de seus adversários políticos e limitou-se a repassar o contato do invasor para Glennwald.
"Pela invasão do meu celular e pelas mensagens enviadas, imaginei que se tratasse de alguma armadilha montada por meus adversários políticos. Por isso, apesar de ser jornalista e por estar apta a produzir matérias com sigilo de fonte, repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald", explicou a ex-candidata.
"Desconheço, portanto, a identidade de quem invadiu meu celular, e desde já, me coloco à inteira disposição para auxiliar no esclarecimento dos fatos em apuração. Estou, por isso, orientando os meus advogados a procederem a imediata entrega das cópias das mensagens que recebi pelo aplicativo Telegram à Polícia Federal, bem como a formalmente informarem, a quem de direito, que estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o ocorrido e para apresentar meu aparelho celular a exame pericial", concluiu D'Ávila.
Delgatti negou ainda ter manipulado as mensagens e disse que acredita não ser possível alterar o conteúdo devido ao formato utilizado pelo Telegram. Ele afirmou que se comunicou com Greenwald de maneira virtual e repassou os arquivos ao jornalista pelo Dropbox, um serviço para armazenamento e compartilhamento de arquivos.
O suspeito contou ainda que teria conseguido o telefone de Manuela D'Ávila na lista de contatos do Telegram da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele ligou para Manuela no Dia das Mães, em 12 de maio, pedindo o número do jornalista.
"A princípio Manuela d'Ávila não estava acreditando no declarante, motivo pelo qual fez o envio para ela de uma gravação de áudio entre os procuradores da República Orlando [Martello Júnior] e Januário Paludo", diz o depoimento. Depois disso, Delgatti teria recebido uma mensagem de Greenwald, que disse ter interesse público no material.