Reprodução SBT News
Um novo desafio viral tem colocado a vida de crianças e adolescentes em risco dentro das próprias escolas. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram estudantes prendendo a respiração ou sendo pressionados no tórax até perderem a consciência, enquanto colegas filmam e riem da cena.
Em um dos registros, um jovem aparece encostado em uma parede, sendo pressionado. Após poucos segundos, desmaia diante dos colegas. Em outro vídeo, uma adolescente cai com o rosto no chão e demora a recuperar os sentidos.
As cenas, que fazem parte do chamado “desafio do desmaio”, foram gravadas dentro de uma das maiores redes de ensino particular do país, segundo apuração do SBT Brasil.
De acordo com especialistas, a prática pode causar lesões graves e até a morte. A cardiologista Cristiane Zambolim, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explica que a pressão sobre o tórax interrompe o fluxo sanguíneo e reduz a oxigenação do cérebro. “Se fizer isso prolongadamente, pode impedir que o sangue vá com a pressão necessária para o corpo inteiro. O que leva a pessoa a desmaiar é a falta de fluxo de sangue adequada no cérebro", explica.
Cristiane ainda alerta para o risco de arritmias fatais. "Imagina se leva a uma arritmia, por exemplo. Só deitar a pessoa no chão não adianta. Seria necessário um desfibrilador ali, na hora — e quem vai ter?"
A cardiopediatra Estela Azeka, do Instituto do Coração (Incor), diz que a "brincadeira" é perigosa e pode levar às últimas consequências. "Essa falta de oxigenação pode causar lesões sérias em órgãos nobres, como o cérebro. Pode até levar à morte."
De acordo com o Instituto Dimicuida, pelo menos 56 crianças e adolescentes morreram ou ficaram com sequelas após desafios perigosos que se popularizaram nas redes sociais na última década no Brasil.
A neuropsicopedagoga Luciana Abate explica que o cérebro dos adolescentes ainda está em desenvolvimento e que eles são mais vulneráveis à pressão social e à busca por aceitação. "O córtex pré-frontal, que controla o julgamento e a tomada de decisões, só amadurece por volta dos 25 anos. Eles são mais sensíveis à pressão dos colegas e mais atraídos por recompensas rápidas. É uma forma de se sentirem aceitos, notados, pertencentes", alerta.
Para ela, o caminho para evitar que mais jovens se envolvam com esses desafios passa por diálogo e estímulo positivo. "É preciso mostrar o quanto eles podem ser produtivos com outras realizações. Projetos que geram engajamento, mas de forma positiva."
Esses desafios muitas vezes envolvem sufocamento, asfixia e até automutilação. São práticas disfarçadas de brincadeira, mas que colocam vidas em risco — muitas vezes dentro das escolas ou mesmo em casa, longe da supervisão de adultos.
"Pais e escolas precisam olhar com atenção para isso e cuidar desses jovens", alerta a cardiopediatra Estela Azeka.