Imunoterapia contra Alzheimer se assemelha em algumas coisas com a vacina (Imagem: Ursula Page/Shutterstock)

A startup suíça de biotecnologia, AC Immune, está desenvolvendo nova forma de combater o Alzheimer. Ela já está em testes e o Brasil pode participar das pesquisas.

Trata-se da ACI-24.060, imunoterapia ativa que combate a proteína beta-amiloide, que fica acumulada no cérebro e acaba sendo um dos principais fatores que desencadeiam a doença. Pacientes com Síndrome de Down também estão sendo tratados com a terapia.

Segundo o UOL, o vice-presidente sênior de relações com investidores e comunicações da AC Immune, Gary Waanders, disse que a ACI-24.060 “ensina” o sistema imunológico a reconhecer e eliminar do corpo as partes tóxicas da beta-amiloide. Esse comportamento se assemelha ao das vacinas, que ensinam o sistema imunológico a reconhecer e expulsar patógenos infecciosos do corpo.

Waanders também explica que, da mesma forma que os imunizantes, as imunoterapias ativas são projetadas para serem seguras, com administração não invasiva e com fabricação, transporte e administração garantida pelos sistemas de saúde globais.

Já a psiquiatra e diretora de enfermarias do Instituto da Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq HC-FMUSP), Tânia Ferraz Alves, pontua que a novidade é um avanço no tratamento contra o Alzheimer.

"No Brasil, as medicações [para o Alzheimer] são dadas quando se faz o diagnóstico, para não haver progressão da doença. Assim, essa imunoterapia é um avanço, pois visa estimular um anticorpo da própria pessoa para combater o acúmulo de beta-amiloide.

Tânia Ferraz Alves, psiquiatra e diretora de enfermarias do Instituto da Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq HC-FMUSP), em entrevista ao UOL. 

Brasil na fase 3?

A terceira fase do experimento será conduzido pela biofarmacêutica Takeda, que tem acordo com a startup no valor de US$ 2,2 bilhões (R$ 12,07 bilhões, na conversão atual).

O Brasil poderá participar dela, que contará também participantes de Estados Unidos e países de Europa, Ásia e América Latina. “Um programa global de desenvolvimento da fase 3, geralmente, envolve muitos participantes internacionais e, devido à grande população, o Brasil seria considerado”, afirma o porta-voz da AC Immune.

À Folha de São Paulo , Andrea Pfeifer, cofundadora e presidente da AC Immune, detalha que a fase 3 pode acontecer em 2026, ou antes, até.

Brasil e a doença

Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), existem cerca de 35,6 milhões de pessoas, no mundo todo, com Alzheimer. Desses, estima-se que 996.454 sejam brasileiros, sendo que boa parte não tem diagnóstico.

Hoje, o Sistema Único de Saúde (SUS) fornece apenas medicações que reduzem os sintomas do Alzheimer, mas elas não evoluem há 30 anos. Os medicamentos são os anticolinesterásicos (donepezil, galantamina e rivastigmina) e a memantina.

Nos EUA, a FDA aprovou dois medicamentos que vão em cima das placas de beta-amiloide, retardando a progressão da doença: lecanemabe e aducanumabe. Em 2 de julho, a agência aprovou o donanemabe.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou não ter recebido pedido para aprovação do lecanemabe e não respondeu, à Folha, sobre as outras medicações por estarem com seus pedidos de aprovação em andamento."Como a Anvisa não aprovou nenhum desses medicamentos, fazemos a importação, com um custo de R$ 300 mil por ano. Eles estão em estágios iniciais, mas já apresentam resultados promissores.

Rodrigo Schultz, neurologista e ex-presidente da Abraz, em entrevista à Folha de S.Paulo

 

Imagem: ilustração/atlascompany no Freepik

Recentemente, cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) publicaram um estudo na revista científica British Journal of Pharmacology, relacionado a uma molécula com potencial contra doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. A LASSBio-1911, como foi nomeada, teve resultados positivos com testes em animais e foi desenvolvida na própria UFRJ.

A molécula atua na proteção dos astrócitos, que são células do cérebro que dão suporte e nutrição aos neurônios e têm sido consideradas mais fundamentais para o funcionamento do órgão.

“Hoje sabemos que o astrócito é muito importante em diversos processos do cérebro. E na doença de Alzheimer ele perde uma série de funções. Nosso trabalho mostra que essa droga conseguiu fazer com que ele recuperasse essa capacidade perdida em animais”, contou a neurocientista e autora do estudo, Flávia Gomes. “Um dos motivos para o insucesso no desenvolvimento de fármacos hoje para o Alzheimer são os alvos. E a importância do nosso trabalho é identificar os astrócitos como um novo alvo para futuras drogas”, explicou.

Os testes em camundongos mostraram que a LASSBio-1911 melhorou o desempenho comportamental, reverteu a perda cognitiva e recuperou a função sináptica dos neurônios.

“Os passos futuros ainda são muito longos até se pensar num remédio para testes em fase clínica, estamos numa fase pré-clínica. Mas é um resultado animador, vejo essa droga como um substrato para ser melhorado ao longo do tempo”, disse Gomes.

Exame mostrando o acumulo de placas beta-amiloide ligadas ao desenvolvimento do Alzheimer | Foto: Brian Snyder/Reuters

Um estudo publicado hoje (6), na revista Nature Medicine, revelou que 2% a 3% da população carrega um gene ligado ao desenvolvimento do Alzheimer. A pesquisa foi feita por membros do grupo de Neurobiologia e Demência, do Instituto de Pesquisa Sant Pau, em Barcelona, na Espanha.

O estudo teve mais de 10 mil amostras de pacientes na Europa e analisou cerca de 3.300 cérebros. Com isso, foi identificado a presença de duas cópias do gene Apoe4 em 95% dos adultos homozigotos, isto é, que possuem pares de genes idênticos, com 65 anos ou mais que apresentavam essa condição. Em 75% dos casos, os exames de PET-amiloide, usados para detectar placas da proteína beta-amiloide, ligadas ao Alzheimer, também indicaram a presença do gene.

“Agora, sabemos que quase todos os indivíduos que carregam duas cópias desse gene apresentam os sintomas de Alzheimer”, disse o primeiro autor do estudo e diretor da Unidade de Memória do serviço de Neurologia do instituto, Juan Fortea. “Isso significa que uma parcela significativa da população, até 3%, possui uma variante que é próxima da sua versão genética hereditária [que corresponde a cerca de 10% de todos os casos de Alzheimer], não apenas um fator de risco para a doença”, completou.

A presença das duas cópias do Apoe4 também indicou o desenvolvimento do Alzheimer em uma idade mais jovem. Com isso, é possível que no futuro existam exames que ajudem no diagnóstico precoce.

Benefícios da descoberta

Os pesquisadores envolvidos no estudo acreditam que a descoberta pode ajudar a indicar novos caminhos para o desenvolvimento de medicamentos que combatam os sintomas da doença, reduzindo a formação de placas cerebrais que levam ao declínio cognitivo, por exemplo.

“Estamos vivendo um momento único nas pesquisas de Alzheimer, com a aprovação de duas drogas anti-amiloides nos últimos anos. Os centros de pesquisa têm aumentado o financiamento para estudos da condição e o nosso estudo se soma a esse esforço, indicando possíveis caminhos para investigar o avanço do Alzheimer conforme ele vai evoluindo”, disse o pesquisador do Centro de Supercomputador de Barcelona, Victor Montal.

A descoberta também pode indicar que portadores do gene Apoe4 têm um risco maior de desenvolvimento de uma alteração na ressonância magnética induzida por amiloides, ou Aria.

“Um possível impacto do nosso estudo é que, antes, a causa da demência era conhecida em menos de 1% dos casos, e agora identificamos fatores causas em mais de 15% das instâncias. Isso é de grande importância, e abre uma via para desenvolver terapias novas e mais seguras”, afirmou Montal.

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