Lúcio Medeiros em uma cavalhada | Foto: cortesia ao Portal Rádio Sampaio

Com um pano de fundo histórico riquíssimo, uma religiosidade forte e uma tradição que permanece firme em todas as suas regras, a Cavalhada surgiu ainda no medievo e veio para o Brasil, sendo parte da cultura de diversos estados e cidades, inclusive de Palmeira dos Índios, cuja Câmara de Vereadores chegou a discutir esse espetáculo como patrimônio imaterial do município.

Mas o que é a cavalhada e como ela saiu do medievo e veio parar em terras palmeirenses?

Um pouco da origem

A cavalhada tem sua origem no conflito entre católicos e muçulmanos na conquista pela Terra Santa. “É uma luta de território e uma luta religiosa, onde a Igreja participa. E por causa disso é que eu trago a cavalhada como religiosidade”, explica a profª. Ana Cristina, da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), que escreveu o livro Cavalhadas em Alagoas: religiosidade e memórias coletivas. “O credo católico contra o islã. Daí a gente tem a luta dos mouros e dos cristãos”, continua.

Profª. Ana Cristina | Foto: Márcio Lima

Com o tempo, os embates começaram a ser representados, com os cristãos sendo cavaleiros vestidos de azul e os mouros, cavaleiros vestindo vermelho, constituindo a chamada “cavalhada de partido”. As atividades possuíam - e possuem até hoje - suas regras. De acordo com a profª. Cristina, apenas homens católicos podem participar das atividades, que também exigem que apenas cavalos sejam utilizados e não éguas. Desta forma, o conflito original continua sendo bem replicado.

“Ela tem suas tradições, ela tem suas regras. Há algumas regras diferenciadas das outras, mas ela tem regras, ela tem ritos. E esses ritos são diretamente ligados à religião católica, à Igreja, ao santo padroeiro”, disse a docente.

Como chegou até Palmeira dos Índios?

A cavalhada chega ao Brasil no século XVI, com os jesuítas, por uma condição imposta pela rainha. “Os portugueses trouxeram para o Brasil as culturas religiosas, principalmente as culturas religiosas; as tradições pelos santos, as procissões… e dentro desse contexto da religiosidade popular, não podia faltar a cavalhada”, explicou a professora.

Capitanias hereditárias | Foto: Agência O Globo

Depois de chegar ao solo do que viria a ser o Brasil, a cavalhada se espalhou e chegou até a capitania hereditária de Pernambuco, que incluía o território do que hoje é o estado de Alagoas. Dentro dessa região, nas primeiras áreas onde a cavalhada chegou, estava o que hoje é a cidade de Palmeira dos Índios.

“Não se tem nem dia, nem data [de quando chegou], mas a gente sabe que Palmeira dos Índios é um dos celeiros, porque Palmeira dos Índios pertence justamente às primeiras áreas que existiam as cavalhadas”, explicou a professora.

De cavaleiro para cavaleiro

O tempo passou e a cavalhada foi passada de pai para filho, através das gerações, até chegarmos aos nossos dias, onde elas acontecem com mais frequência, em Palmeira e em todo o estado de Alagoas. Floro Augusto (45), é um exemplo de alguém que seguiu a tradição da família: seu pai, José Augusto, era cavaleiro e ele, depois de crescido, também começou a participar e organizar as cavalhadas.

Floro durante uma cavalhada | Foto: cortesia ao Portal Rádio Sampaio

“Meu pai foi cavaleiro, eu segui o meu pai. O tempo que eu tive com ele, eu sempre segui. Chegou o tempo em que a cavalhada deu uma caída nas apresentações, então depois eu fui correr a argolinha”, contou Floro. “Segui por mais de 10 ou 12 anos, depois eu retornei. Depois eu comecei a gostar da cavalhada, a cavalhada de partido [...] aí foi quando eu voltei para o centro da cavalhada e disse ‘essa aqui é o que eu quero, era o que meu pai queria, o que meu pai praticava, então é essa aqui que eu quero’”, continuou.

Floro organiza as atividades não apenas em Palmeira, mas também em outras cidades de Alagoas. “Tem outras cidades que nos convocam e a gente vai lá, faz um esforçozinho para que a cavalhada fique “flutuando”, né?! A qualidade seja mais perfeita”, afirmou o cavaleiro.

Lúcio Medeiros (34), que também é cavaleiro, disse que iniciou sua vida na cavalhada ao ver seus tios, assim como Floro e seu pai. “Os meus tios corriam e eu ia desde muito cedo acompanhando os meus tios. E aí a cavalhada faz parte também da minha vida e vai fazer do meu filhinho, que tem aí, que já tem quatro meses e daqui a pouco tá correndo comigo aí, nas pistas”, disse.

Além de participar em sua terra natal, ele também participa das que são organizadas em outras regiões do estado. Segundo ele, é uma maneira de divulgar essa cultura e formar fortes vínculos de amizade.

Ritos da cavalhada

Como dito anteriormente, as cavalhadas seguem ritos específicos para cada modalidade. É preciso que ela seja sempre acompanhada do som da zabumba e, segundo a profª. Cristina, seu início deve ser anunciado por foguetes. Mas as regras vão além disso: os cavaleiros não podem descer do cavalo durante a cavalhada, exceto com alguma permissão; o modo como as lanças são levadas também variam.

“Existem também carreiras específicas, que é a carreira do abraço, para simbolizar a paz entre mouros e cristãos e também dos cavaleiros que estão participando do evento; existe a carreira dos punhais; existe a carreira do lenço branco; então é uma série de ritual [sic] para tornar ela mais tradicional e repetir o que os nossos antepassados faziam”, explicou Lúcio. 

Ainda conforme foi dito pelo cavaleiro, cada carreira tem um significado. “A argola, por exemplo, que está ali pregada, ela significa o coração do inimigo, de quando os cavaleiros acertavam com as lanças. Então a gente tenta, como a cavalhada não deixa de ser um teatro, a gente tenta fazer o mais específico possível”.

A seguir, ouça a entrevista completa, exclusiva para o Portal Rádio Sampaio, com a profª. Cristina e com os cavaleiros Floro e o Lúcio.

Abaixo, assista a um trecho da entrevista com a profª. Ana Cristina.

Contato

Rua José e Maria Passos, nº 25
Centro - Palmeira dos Índios - AL.
(82) 99641-3231
TELEFONE FIXO - ESTUDIO:
(82)-3421-4842
SETOR FINANCEIRO: (82) 3421-2289 / 99636-5351
(Flávia Angélica)
COMERCIAL: 
(82) 99344-9999
(Dalmo Gonzaga)
O melhor conteúdo. Todos os direitos reservados. Segurança e privacidade
linkedin facebook pinterest youtube rss twitter instagram facebook-blank rss-blank linkedin-blank pinterest youtube twitter instagram