Sr. Geildo Araújo durante a entrevista | Foto: Márcio Lima/Portal Rádio Sampaio
Na manhã da última quarta-feira (31), teve início a 21ª Cavalgada de Nossa Senhora do Bom Conselho, que saiu de Bom Conselho (PE) e tem Arapiraca (AL) como destino. Na noite de ontem, os participantes pernoitaram em Palmeira dos Índios, na Escola Estadual Graciliano Ramos. Na manhã de hoje (1°), o presidente da Associação dos Criadores de Cavalo de Sela de Arapiraca (Acesa), Geildo Araújo, concedeu uma entrevista ao Portal Rádio Sampaio e falou como tem sido essa edição do evento cultural e religioso.
“O percurso transcorreu normalmente, sem nenhum incidente, graças a Deus. Todos os cavaleiros chegaram aqui com a maior tranquilidade, com saúde, com paz”, contou Araújo, que também revelou que alguns dos cavalos ficaram cansados por conta do clima mais quente. “Nós temos carros de apoio e esses cavalos que têm esse desconforto, a gente já embarca eles”, explicou. Enquanto os participantes passaram a noite na escola, os animais puderam descansar no Parque São José, ao lado da casa de shows Aquarius.
Cavalos descansando no Parque São José, em Palmeira dos Índios | Foto: Márcio Lima/Portal Rádio Sampaio
Durante a estadia dos mais de 600 cavaleiros e amazonas em Palmeira, a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho ficou em uma igreja da cidade. Ainda na manhã de hoje, ela foi levada até o Parque São José, onde os participantes se concentraram, para que a peregrinação pudesse continuar a partir das 8h.
Segundo Geildo, todo o trajeto tem cerca de 96 km, mas a distância e o clima mais quente não têm impedido a Cavalgada de avançar. “Estamos preparados novamente para mais um trecho, que é aqui de Palmeira dos Índios até Coité das Pinhas, onde vamos fazer o nosso segundo almoço”, declarou.
Depois de Coité das Pinhas, em Igaci, a Cavalgada segue até a Vila São José, em Arapiraca. Lá, os participantes irão passar a noite. A chegada ao destino final deve ocorrer apenas amanhã (2), quando a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho será deixada inicialmente na igreja da Massaranduba, durante o horário de almoço, para depois ser levada até a Concatedral que leva o seu nome.
“É uma tradição e principalmente de fé e religiosidade”, disse Geildo.
O percurso percorrido pela Cavalgada de Nossa Senhora do Bom Conselho refaz o trajeto feito pelo fundador de Arapiraca, Manoel André, quando foi à cidade pernambucana para buscar a imagem de Nossa Senhora da Guia para sua esposa, posteriormente levando-a até a capital do agreste alagoano, que tem a Santíssima Virgem do Bom Conselho como sua padroeira.
A 21ª edição do evento conta com segurança tanto para os cavaleiros e amazonas, com a Cavalaria da Polícia Militar de Alagoas (PM/AL) e uma ambulância, quanto para os animais, que contam com assistência veterinária.
Os cavalos também têm uma boa quantidade de feno para se alimentarem durante as paradas.
Abaixo, ouça a entrevista com o sr. Geildo Araújo.
A seguir, assista a um trecho da entrevista.
Vídeo: Márcio Lima/Portal Rádio Sampaio
Foto: Ascom Arapiraca
No último dia 15 de dezembro foi aprovada a lei n° 9.101/2023, do deputado Ricardo Nezinho (MDB). Com isso, a Cavalgada de Nossa Senhora do Bom Conselho tornou-se Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial de Alagoas. A atividade é realizada todos os anos, entre as cidades de Arapiraca (AL) até Bom Conselho (PE).
A referida cavalgada ocorre desde 2003. Nela, os arapiraquenses saem de Bom Conselho e seguem até sua cidade, levando a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho consigo. Com isso, segundo o deputado Nezinho, refazem o trajeto do fundador de Arapiraca, Manoel André, em 1864.
"Os participantes da Cavalgada saem de Bom Conselho, em Pernambuco, no dia 31 de janeiro, e chegam em Arapiraca no dia 2 de fevereiro, quando entregam a imagem da santa para a igreja, marcando assim o início da procissão", explicou o parlamentar.
Cavalgada realizada em 2014 | Imagem: reprodução/Sala 4 Produtora
A cavalgada é uma manifestação cultural presente em diversos locais do Brasil e tem suas raízes ainda no século XVII, quando peões, montados em cavalos, precisavam conduzir o gado de uma fazenda para outra. Com o passar do tempo, adotou-se a atividade como esporte e, no caso de Palmeira dos Índios (AL), como um encontro entre amigos.
“A gente teve uma ideia de fraternizar os amigos. Como a gente tem a tradição, aqui em Palmeira dos Índios, de andar a cavalo de sela, esse cavalo de passeio, a gente teve a ideia de reunir um grupo de amigos, para que a gente confraternizasse e fizesse um passeio de cavalo. Aí se dá o nome da cavalgada”, explicou Everaldo Carvalho, que foi responsável por realizar a primeira cavalgada na cidade, em maio de 2003.
Participantes de uma cavalgada dando banho nos cavalos | Imagem: reprodução/Sala 4 Produtora
O evento é caracterizado por uma série de atividades, que, em Palmeira, incluem um café da manhã, o desfile com os cavalos, por um trajeto pré-determinado, paradas para tomar um caldinho e dar banho nos cavalos, o chamado “bate sela”, o almoço e as atrações musicais. Os homens que participam dessa manifestação cultural são chamados de vaqueiros ou cavaleiros, enquanto as mulheres são chamadas de amazonas.
Everaldo Carvalho durante entrevista ao Portal Rádio Sampaio | Foto: Márcio Lima
Everaldo não realizou apenas a primeira cavalgada, cujo grupo foi batizado de Clube da Sela, mas todas as outras que vieram posteriormente, tornando o evento uma grande tradição em Palmeira e atraindo pessoas de outras cidades e estados vizinhos. Ela costuma ocorrer todo dia 1° de maio.
Para participar das cavalgadas organizadas pelo Clube da Sela, os interessados devem adquirir um kit, onde conseguem uma camisa do evento e ganham o direito de participar do café da manhã e das demais atividades.
“A gente aqui, a tradição é fazer uma camisa, pra que divulgue a cavalgada, pega o apoio de alguns amigos, empresas e políticos, e vende, vende esse kit”, disse Everaldo. “Geralmente, algumas cavalgadas contratam algumas bandas e deixam toadeiros, para que façam versos ao vivo; você dá o nome de uma pessoa e eles fazem na hora”, continuou.
Segundo o organizador, artistas como Mano Walter e Vavá Machado, quando ainda era vivo, foram algumas das atrações que o Clube conseguiu trazer para a cidade.
Embora hoje em dia as cavalgadas abarquem um público mais amplo, incluindo mulheres, crianças e idosos, Everaldo conta que no início não era assim.
“Na época, quando a gente realizava cavalgada, é interessante, os cavaleiros tinham fama de mulherengos e tudo, e os pais não queriam deixar as filhas irem para as cavalgadas. Mas como a gente, no Clube da Sela, a gente começou a levar a família - levava minha mãe, levava a minha esposa, minhas irmãs - as pessoas foram aderindo às cavalgadas”, contou. “Já cheguei a participar de cavalgada onde tinha uma pessoa com mais de 90 anos de idade andando a cavalo de sela”.
O Clube da Sela organizou esses eventos durante 18 anos consecutivos, mas precisou parar por alguns anos, em decorrência da pandemia, do falecimento da mãe de Everaldo e, este ano, por questões burocráticas. Contudo, o evento deve voltar a acontecer normalmente no dia 1° de maio de 2024.
Confira a entrevista com Everaldo logo abaixo.
A seguir, assista a um trecho da entrevista, onde Everaldo fala sobre como a cavalgada acontece.