Um tratamento contra três tipos de câncer, feito no Brasil, está impressionando médicos e pacientes pelos bons resultados em pessoas que já não respondiam mais aos procedimentos tradicionais, como quimioterapia, radioterapia e transplante de medula.
É um tratamento novo e rápido, que dura em torno de meia-hora e tem conseguido eliminar a doença com o uso de células de defesa do próprio paciente, modificadas geneticamente. A CART-T é uma terapia genética e revolucionária criada nos Estados Unidos e aprovada em 2017 pela FDA, a agência reguladora de saúde norte-americana, que vem dando certo também no Brasil.
“A gente pretende, num estudo clínico, fazer para 81 pessoas com linfoma ou leucemia. Hoje a gente tem uma unidade fabril aqui, uma fábrica desenvolvida e construída aqui no hemocentro que tem capacidade de produzir até 300 casos por ano com esse produto. Então a gente espera escalar isso aqui para muito mais pessoas. Tudo pelo SUS, sem custos”, disse Diego Villa Clé, coordenador médico do Hemocentro de Ribeirão Preto, ao Fantástico, da TV Globo.
O programa jornalístico acompanhou duas pacientes que passaram por esse tratamento durante 6 meses, uma empresária e uma aposentada. Uma com leucemia e a outra com linfoma.
A aposentada Vânia Lucia Alves Teixeira, de João Pessoa, enfrentou um linfoma que retornou mesmo após quimioterapia e radioterapia. Depois do tratamento com CART-T no Hospital A.C.Camargo,em São Paulo, Vânia continua em remissão, sem a doença.
“A gente pode dizer que ela está em resposta completa. Claro que o termo cura, a gente vai dizer com o acompanhamento dela daqui para frente, mas em termos de expectativa de cura, com certeza esse é o melhor tratamento que a gente poderia oferecer na situação da doença dela”, diz o médico do A.C. Camargo, Jair Schmidt Filho.
Já a empresária Marico Utiyama Egashira descobriu a leucemia em 2020, passou por quimioterapia e transplante de medula, mas a doença ressurgiu.
“A gente percebeu que ela não respondia mais aos tratamentos convencionais, principalmente à base de quimioterapia, que é o que costuma tratar a doença dela”, diz Jair Schmidt Filho, médico do Centro de Referência em Neoplastias Hematológicas do A.C. Camargo.
Depois de receber o novo tratamento, Marico ficou otimista. Na semana passada, ela se sentiu mal, passou por exames e foram detectadas algumas células cancerígenas, indicando que a leucemia voltou. Os médicos estão avaliando o caso dela.
O médico Jair Schmidt Filho disse que o percentual de sucesso do procedimento é alto: “Ela fica em torno de 40, 45%, ou seja, quase metade dos casos. Mas a gente, está falando de uma expectativa de vida nesses pacientes que até então era de 6 meses ou menos”, lembrou.
Cerca de 50% dos pacientes permanecem sem a doença depois de cinco anos do tratamento e são considerados curados.
É o caso de Paulo Peregrino, de 62 anos, mostrado em junho de 2023 aqui no Só Notícia Boa. Durante 13 anos, o câncer dele foi tratado e voltou três vezes, até passar pelo procedimento com CART-T no hospital das Clínicas de São Paulo.
Paulo recebeu as células modificadas no dia 24 de março de 2023, numa infusão durou 45 minutos. Depois do primeiro resultado excelente dos exames, ele teve alta, voltou a andar e continuou fazendo exames a cada três meses. Um novo exame confirmou que ele continua em remissão completa até hoje.
Primeiro é feita a coleta de sangue do paciente para obter as células de defesa – os linfócitos T, ou células T;
Elas são enviadas a um laboratório e passam por uma modificação genética para poder identificar as células cancerígenas;
Chamadas agora de células CAR-T, elas são devolvidas para o paciente por uma infusão;
No corpo do paciente, as novas células se multiplicam e começam a eliminar o câncer.
Até o momento, o tratamento com as células CAR-T só pode ser feito em pacientes com 3 tipos de câncer: leucemia linfóide aguda, linfoma não Hodgkin e mieloma.
No Brasil, existem 2 maneiras de se fazer esse tratamento: enviando as células para laboratórios, nos Estados Unidos e na Europa, que custa, pelo menos, R$ 2 milhões, ou participando dos estudos clínicos do Hospital Albert Einstein ou do Hemocentro de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
No caso da Vânia, ela fez o tratamento particular e o plano de saúde dela cobriu os custos depois que a paciente entrou na Justiça.
As células dela foram enviadas para um laboratório nos Estados Unidos.