Portal na entrada do perímetro urbano de São Luiz; obras estão paradas — Foto: Raquel Maia/Rede Amazônica

São Luiz, cidade mais pequena de Roraima com 7.315 habitantes, enfrenta uma crise financeira e administrativa sem precedentes. Com seis obras milionárias paralisadas há anos — entre elas, parque de vaquejada, escola, UBS, praça, conjunto habitacional e um portal de entrada — o município acumula um rombo de R$ 38 milhões, equivalente a 74% do orçamento de 2025.

As construções, que somam cerca de R$ 36 milhões, foram iniciadas no mandato do ex-prefeito James Batista (SD), cassado em 2023 pelo TRE-RR. Mesmo afastado, ele permaneceu no cargo até o fim de 2024. Durante sua gestão, a cidade recebeu mais de R$ 103 milhões em emendas parlamentares federais e estaduais — agora sob investigação. O g1 tentou contato com James, mas não obteve resposta.

Diante da situação, o atual prefeito Chicão (PP) decretou estado de calamidade financeira em janeiro. Apesar do decreto, passou a ser investigado pelo Ministério Público de Contas por desvio de R$ 7,4 milhões. O pedido de afastamento do gestor ainda aguarda análise do Tribunal de Contas de Roraima.

Entre as obras paralisadas estão:

• Parque de vaquejada (R$ 13,7 milhões) — parado há 2 anos e 4 meses;

• Conjunto habitacional (R$ 12,3 milhões) — apenas 40 das 100 casas prontas;

• Praça dos Buritis (R$ 6 milhões) — 11 meses de atraso;

• Escola municipal (R$ 2,7 milhões) — atrasada 1 ano e 6 meses;

• Portal de entrada (R$ 2,16 milhões) — parado há quase 3 anos;

• Unidade Básica de Saúde (R$ 1,3 milhão) — sem previsão de conclusão.

Moradores classificam as estruturas inacabadas como “elefantes brancos”. A UBS atual funciona em condições precárias, com lixo hospitalar acumulado e atendimentos feitos em áreas improvisadas. Já a escola municipal funciona em um prédio cedido, enquanto o novo está abandonado.

Além disso, uma CPI da Assembleia Legislativa apura desvios em duas emendas estaduais no valor de R$ 3,5 milhões. As investigações revelam ainda uso de empresas de fachada, suspensão irregular de licitações e possíveis fraudes envolvendo a construtora Techmix.

As emendas parlamentares, em sua maioria do tipo “PIX” — transferidas sem exigência de projeto ou justificativa — somam R$ 100 milhões. Um dos maiores repasses veio do ex-senador Telmário Mota, preso por estupro e tentativa de homicídio. O atual senador Chico Rodrigues (União), flagrado com dinheiro na cueca, enviou R$ 19,2 milhões.

Enquanto isso, a população segue sem respostas. “Precisamos de esperança”, desabafou o autônomo Paulo Rodrigues. Já a dona de casa Maria Iracema ainda elogia o ex-prefeito James pelas ações sociais, como viagens a Caldas Novas, que também viraram alvo da Justiça.

Com escândalos políticos, obras travadas e caos administrativo, São Luiz se tornou o retrato de como o excesso de emendas sem controle e a má gestão pública podem devastar até as menores cidades do Brasil.