A Câmara dos Deputados concluiu na noite desta quarta-feira (7) a votação em segundo turno da proposta de reforma da Previdência.
Durante a sessão, que se estendeu por mais de 9 horas, os deputados rejeitaram oito destaques, propostas que tinham o objetivo de retirar pontos do texto-base, aprovado na última madrugada.
Esse texto-base era igual ao aprovado em primeiro turno, ainda em julho – a redação foi mantida. A votação da reforma em dois turnos é uma exigência constitucional, uma vez que o projeto do governo é justamente uma proposta de emenda à Constituição (PEC).
Com a conclusão da votação pela Câmara, nesta quarta-feira, a reforma da Previdência será encaminhada para análise do Senado. A expectativa é que o texto já seja enviado nesta quinta-feira.
A reforma da Previdência foi enviada ao Congresso em fevereiro deste ano e foi entregue pessoalmente pelo presidente Jair Bolsonaro ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A proposta é defendida pelo governo como uma das principais formas de recuperar as contas públicas. A estimativa da equipe econômica é economizar cerca de R$ 930 bilhões em dez anos.
Após a conclusão da votação, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se disse "muito satisfeito". Ele estava no plenário da Câmara quando a sessão terminou e também disse que a expectativa é a "melhor possível" em relação à aprovação do texto pelo Senado.
"Vim aqui cumprimentar o excelente trabalho da Câmara, agradecer a aprovação da reforma. Um excelente trabalho de coordenação do presidente Rodrigo Maia e [estou] muito satisfeito. Acho que é muito importante. Muito feliz com o apoio da Câmara dos Deputados", declarou.
Câmara conclui votação da reforma da Previdência e projeto segue para o Senado
A reforma da Previdência prevê, entre outros pontos:
Diferentemente das sessões de votação dos textos-base em primeiro e segundo turnos, a sessão desta quarta-feira transcorreu com maior tranquilidade e sem grandes embates entre deputados.
No meio da tarde, porém, a sessão se arrastou um pouco mais do que o normal. Isso porque um grupo de cerca de 60 parlamentares, de vários partidos, dirigiu-se ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir à Corte que impedisse a transferência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de Curitiba, onde está preso, para o presídio de Tremembé, em São Paulo.
O retorno desse grupo de parlamentares foi aguardado para que a sessão tivesse continuidade.
O deputado Bibo Nunes (PSL-RS) criticou os discursos feitos pelos deputados de oposição, favoráveis à decisão do Supremo. "Eles vêm falar em injustiça contra Lula, por favor, chega desse discurso contra tudo e a favor de nada. Caiam na realidade. Lula está preso para o bem do Brasil", disse.
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), também se manifestou. Disse que os deputados deram um "exemplo" ao Brasil de como é possível "resguardar a democracia", apesar de divergências políticas.
"[Quero] reconhecer o papel do STF que, prontamente, reagiu a uma situação de violência e se manifestou restabelecendo a ordem no país. O ministro Toffoli nos disse que não se lembrava de ter recebido uma diversidade de forças políticas em torno de um objetivo comum. A partir de hoje, mudamos as relações institucionais, mostrando que há coisas maiores que nos unem no processo da defesa do nosso país e da nossa democracia", disse a petista.
Integrante do chamado "Centrão", o deputado Marcos Pereira (PRB-SP), vice-presidente da Câmara, disse que foi ao STF representando a Câmara. Para ele, “há exageros em algumas decisões judiciais em primeira instância”.
Deputados da oposição voltaram a criticar a reforma da Previdência nesta quarta-feira. Ao todo, eles apresentaram sete destaques para tentar retirar da proposta pontos que consideram injustos aos mais pobres.
"Continuamos achando que essa reforma é perversa e contra o trabalhador brasileiro. Oitenta e três por cento desses R$ 930 bilhões sairão de pessoas que ganham até 2,4 salários mínimos", afirmou Marcelo Nilo (PSB-BA).
Os oposicionistas também voltaram a citar o projeto que o governo encaminhou ao Congresso que libera R$ 3 bilhões para vários ministérios. Parte desse dinheiro, cerca de R$ 2 bilhões, será destinada para o pagamento de emendas parlamentares.
“Tendo em vista a perversidade que representa para os trabalhadores essa reforma da Previdência, a sociedade está identificando os parlamentares que votaram favoravelmente, mas recebendo o prêmio, a liberação das chamadas emendas parlamentares. Estão sendo chamados, pela prática desse crime, de mercenários”, criticou Paulo Ramos (PDT-RJ).
Já os deputados pró-reforma negam ter votado a favor da PEC em razão da liberação de emendas. Eles dizem que a mudança nas regras de aposentadoria é "fundamental" para o equilíbrio das contas públicas, para atração de investimentos e para a geração de emprego e renda.
"A reforma da Previdência representa, nos próximos 10 anos, uma economia em torno de R$ 933 bilhões, ou seja, investimentos que vão ser aplicados na saúde, na educação, na segurança pública, em infraestrutura, estradas, rodovias e outras área importantes para o Brasil, para que possamos melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro", afirmou Júnior Ferrari (PSD-PA).
"Muito mais além, esta reforma da Previdência, além dos 933 bilhões de economia, vai também gerar um efeito positivo no mercado nacional e no mercado internacional, atraindo investidores, gerando, assim, empregos e oportunidades", acrescentou o deputado do Pará.